Em 1972, realizaram-se os Jogos Olímpicos de Munique. Nesse contexto, foi construído um pavilhão com uma piscina e um rinque de patinagem no gelo em Bad Reichenhall. Durante décadas, os entusiastas destas modalidades puderem usufruir das instalações sem quaisquer problemas. No dia 02 de janeiro de 2006, ocorre um trágico acontecimento que comove a população local e outras pessoas.
A neve cai sem parar nos dias entre os anos 2005 e 2006. A estrutura do edifício já tem mais de 30 anos. Existem dúvidas relativamente à capacidade de a estrutura ainda conseguir suportar as massas de neve. Por esse motivo, os engenheiros de estruturas resolvem inspecionar o edifício por volta da hora de almoço. No entanto, de acordo com os especialistas, o peso da neve está abaixo do limite tolerável. Não existe motivo para receios. Contudo, por motivos de segurança, os responsáveis optam por cancelar o treino de hóquei no gelo dessa noite. Após o fecho ao público às 16h00, o rinque de patinagem no gelo deve ser completamente encerrado.
Nessa altura, ainda havia cerca de 50 pessoas no recinto. A poucos minutos do fecho, às 15h55, ocorre uma terrível tragédia. Sem aviso, a estrutura da cobertura cede. Toda a cobertura do rinque de patinagem cai juntamente com as massas de neve sobre a superfície da pista de gelo. Sabemos a hora precisa porque o relógio do recinto parou naquele momento. Além disso, também houve inúmeras pessoas que foram testemunhas deste terrível acontecimento.
A cobertura soterrou três adultos e doze crianças. Todos morreram devido ao colapso da estrutura, não por hipotermia. Outras 34 pessoas ficaram feridas, algumas com gravidade. As operações de salvamento duraram dois dias ao todo. No entanto, por ordem do engenheiro de estruturas, os trabalhos tiveram de ser interrompidos novamente para adotar as medidas de segurança nas secções de cobertura e nos pilares exteriores colapsados. Além disso, o estacionamento subterrâneo também teve de ser suportado adicionalmente. Claro que as pessoas que estão a prestar auxílio não podem ser feridas.
O pavilhão estava a precisar de obras há muito tempo. No entanto, a decisão ainda não tinha sido tomada por se tratar de um tema das eleições autárquicas. iriam ocorrer dentro de um mês. A estrutura da cobertura era constituída por vigas de secção em caixão como viga principal com contraventamentos muito rígidos em ângulo reto. Hoje em dia seriam utilizadas vigas de madeira laminada colada. Numa viga de secção em caixão, os danos são quase impercetíveis do lado de fora.
O processo é bastante demorado. O engenheiro de estruturas é quem acaba por ser condenado pelo planeamento da cobertura. Foi condenado a 18 meses de prisão com pena suspensa por homicídio negligente. O perito e o arquiteto responsáveis foram absolvidos pelo tribunal.
Em toda a Alemanha, são realizadas investigações à segurança de edifícios. Várias estruturas foram demolidas ou encerradas durante este processo. Entre estas constam, por exemplo, o golfinário no jardim zoológico de Duisburg, onde a cobertura apresenta valores críticos.
O estádio de gelo em Wiehl também foi encerrado depois de terem sido encontradas fendas. A este respeito, o Ministério do Interior da Baviera elaborou um conjunto de instruções relativas à estabilidade. Redigiram um folheto sobre como lidar com a neve nas coberturas.
O pavilhão foi completamente demolido um ano após a catástrofe. A praça ainda hoje está vazia. Foi construído um memorial para as vítimas. As 15 estelas de vidro são uma homenagem às pessoas que morreram.
As imagens podem ser consultadas através da ligação:
A neve é a única responsável por esta terrível catástrofe? Ou houve outros fatores que também contribuíram?
No primeiro comunicado, os responsáveis falam numa sobrecarga da estrutura de apoio devido à queda de neve contínua. Mas rapidamente ficou claro que essas especulações estavam incorretas. As cargas de neve medidas eram de aproximadamente 1,40 a 1,50 metros. No entanto, isso ainda está na ordem de magnitude das cargas calculadas.
Os relatórios da época permitem muitas conclusões sobre a evolução do acontecimento. Conforme já mencionado, estavam instaladas vigas de secção em caixão. Tinham tabuados laterais feitos com painéis de alma Kämpf, que são painéis de madeira maciça constituídos por três camadas de tábuas coladas entre si. Os banzos superior e inferior das treliças não puderam ser feitos com o mesmo comprimento. O problema é que não existia um cálculo estático auditado para a estrutura de cobertura implementada. As vigas foram fabricadas com divergências em relação à homologação porque a altura é superior a 1,25 metros. Não houve qualquer aprovação para este caso em particular. Além disso, são detetados erros no cálculo estático, porque as tensões permitidas foram amplamente excedidas. Contudo, há outros defeitos a acrescentar. Os tubos de águas pluviais foram instalados através das vigas imediatamente ao lado dos apoios. A colagem inadequada entre o banzo e as chapas da alma resulta em folgas de pregos muito grandes. Todos os lados do pavilhão foram fechados posteriormente.
No entanto, isso não tinha sido planeado dessa forma, por isso houve uma alteração nas condições ambientais. Consequentemente, a exposição à humidade aumentou, mas as alterações estruturais não foram examinadas. Esta exposição constante à humidade causou danos na ligação de resina ureica.
Assim sendo, esta catástrofe não resultou de um erro em particular, mas sim da soma de muitos defeitos. Em resumo, os peritos encontraram quatro grandes grupos de erros:
• Erros formais,
• Erros de planeamento,
• Erros de execução,
• Erros de manutenção.
Quem é responsável por estes erros?
Os juízes procuram esclarecer a situação através de um longo processo. Quem é o responsável por este evento? O engenheiro civil ou o engenheiro de estruturas realizaram um cálculo estático inadequado. Os clientes e os arquitetos aceitaram uma proposta para uma construção especial que nunca foi verificada pelo engenheiro inspetor. Contudo, também competia à cidade de Bad Reichenhall dar indicações nesse sentido. Quem acabou por ser condenado foi o engenheiro de estruturas, a quem foi aplicada uma pena de 18 meses de liberdade condicional por homicídio negligente, porque o método de construção utilizado não correspondia ao da aprovação.
Os peritos e o arquiteto foram absolvidos pelo ministério público. No entanto, estavam acusados porque a estática não verificada deveria ter sido detetada nas inspeções. Durante o exame de engenharia estrutural, verificou-se o uso de uma madeira laminada colada inadequada. Conforme já mencionado, os lados do pavilhão tinham sido todos fechados de forma simples. No entanto, foi utilizada uma cola à base de ureia. No caso desta variante, o efeito adesivo diminui devido à ação da humidade. Uma cola de resina de resorcinol teria sido mais adequada. Se fosse utilizada, provavelmente o colapso teria sido evitado. Por esse motivo, não é compreensível a razão pela qual as acusações contra os responsáveis foram retiradas.
Estes defeitos são um caso isolado?
No decurso deste acontecimento, foram inspecionados outros pavilhões. A mais alta autoridade de construção do Ministério do Interior da Baviera ordenou que todos os rinques de patinagem no gelo construídos em madeira fossem imediatamente inspecionados. Foram obtidos resultados semelhantes, o que resultou na demolição e no encerramento de alguns edifícios. Os motivos foram fendas nas juntas de madeira e de cola, elementos podres, mas também roturas nas ligações. A utilização de colas de ureia em componentes de madeira estruturais foi, entretanto, proibida. As secções de caixão não visíveis da construção em madeira já não correspondem aos mais recentes desenvolvimentos tecnológicos e, por isso, não devem ser utilizadas.
Quais foram as aprendizagens que resultaram desta catástrofe?
Com a ajuda de um diagnóstico de estrutura, as estruturas são analisadas quanto a danos por pessoal qualificado. Isto deve ser iniciado pelo proprietário em determinados intervalos. As estruturas a partir de uma determinada dimensão devem ser inspecionadas regularmente. Por exemplo, estabelecimentos com capacidade para mais de 5000 pessoas devem ser inspecionados de dois em dois anos. Os planeadores devem optar por uma estrutura de apoio que, em caso de rotura de um componente, não implique o colapso da estrutura completa, mas apenas de algumas partes. Faz sentido que o revestimento da cobertura seja a parte mais fraca da estrutura de apoio. Assim, no caso de uma sobrecarga real, por exemplo, devido a neve ou gelo, apenas uma parte limitada da superfície da cobertura irá falhar.
O engenheiro inspetor ou especialista técnico deve realizar uma melhor inspeção ou supervisão da construção de acordo com os regulamentos da construção. Por fim, a correta execução da estrutura tem de ser atestada por um certificado.